quarta-feira, 17 de outubro de 2018

O medo da democracia

A partir dos protestos populares de 2013 que tomaram as ruas de todo o Brasil sob uma égide não partidária, algo inédito na história brasileira, seguindo depois com os protestos a favor do impeachment da presidente Dilma, há um espasmo frequente na imprensa brasileira e setores da academia sobre uma possível ruptura nas instituições democráticas no país. Para fortalecer essa narrativa, na liderança das pesquisas de segundo turno (tendo ganho o primeiro com larga vantagem) está o candidato Jair Bolsonaro, tido como um case autoritário relembrando o regime de exceção de 1964. Relacionam-se entre si frases de Bolsonaro na Câmara de vinte anos atrás ou mais, para provar que a democracia corre um sério risco caso este seja eleito.

É de se estranhar que a grande mídia tenha medo desses movimentos populares, e agora de suas reações em prol de um determinado candidato. Quando a esquerda saiu as ruas os movimentos eram considerados legítimos e de militantes partidários, mesmo sendo sabido todo o esquema involuntário destes protestos, inclusive sendo pagos com o dinheiro da própria população contrária a suas pautas.

A democracia está na realidade se fortalecendo, e a maior mostra disso é o surgimento de movimentos que busquem reivindicar suas pautas sem o medo de serem taxados de tantos adjetivos pejorativos que a esquerda brasileira utiliza para amedrontar moralmente seus opositores políticos. Obviamente quando estamos passando por uma crise institucional do sistema político-econômico no país, essas reverberações em um período eleitoral se faz de modo mais contundente; nada fora da normalidade democrática, desde que respeitado o direito da livre expressão. Fatos ocorridos atualmente no Brasil, com a demonstração de uma cultura política mais viva e pela briga de propostas de grupos distintos, ocorrem em todas as democracias consolidadas como os EUA, Inglaterra, França e Alemanha.

Em nenhum desses países a sombra de um governo autoritário se pôs ao sol da liberdade, e pela declaração dos candidatos isto não irá ocorrer no Brasil, mesmo que isso fosse o que quisessem impor. Apesar da cultura da corrupção endêmica instalada nas instituições brasileiras, há ainda um judiciário independente, as forças militares estão apartadas da política, a sociedade civil está muito mais consciente através de mecanismos como a internet (em contraponto ao que a mídia tradicional quer fazer parecer com as chamadas fake news), a imprensa busca mesmo que com tropeços e senões cumprir seu papel de vigia e denuncismo perante a realidade do país, e por fim, cenário internacional não traz perigos iminentes, visto a derrocada de todos os regimes autoritários de esquerda que poderiam ameaçar a hegemonia brasileira.

Então está tudo ótimo por aqui? É óbvio que não, a democracia vai continuar exercendo seu papel de sempre eleger o menos pior, e cabe sempre a nós indivíduos e a sociedade civil se proteger do perigo maior, representado sempre pelo aumento do estatismo em relação as nossas vidas. O preço da liberdade é a eterna vigilância, como diria Thomas Jefferson.

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